segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por que os brasileiros vão para o exterior




Vale mesmo a pena deixar família e amigos para 'tentar a sorte' em terras estranhas?


Durante muitas décadas, o Brasil foi visto como o "País das Oportunidades". Muita gente veio de fora para ganhar dinheiro em terras brasileiras e depois voltar ao país de origem, mas acabaram ficando. Houve uma atração muito grande de portugueses, italianos, espanhóis, japoneses e outras etnias. 
Hoje em dia, este fenômeno se repete ao contrário. Milhões de brasileiros deixam a terra natal para se aventurar no exterior em busca daquilo que não encontram por aqui. Calcula-se que cerca de quatro milhões ou mais de brasileiros foram tentar a vida no exterior nos últimos 20 anos. Alguns foram e jamais voltaram. Outros, por diversas razões, voltaram espontaneamente ou foram obrigados a retornar. Dos que voltaram, alguns ficaram no Brasil, mas muitos retornaram para o exterior porque não se acostumaram mais à vida brasileira. 
Os brasileiros vão em massa para os Estados Unidos e para a península ibérica. Além destes dois pontos, tem a emigração para o Japão, que é um caso particular e bastante problemático, fruto de várias desagregações familiares. Mas por que tantos brasileiros vão para o exterior? Será que isso é vantajoso? Vale mesmo a pena deixar família e amigos para se aventurar em terras estranhas?
Essas perguntas, logicamente, não têm uma única resposta. Os casos devem ser tratados individualmente, mas pesquisando em jornais e revistas é possível verificar que a economia se globalizou, os países estão muito mais próximos do que parecem, não geograficamente, mas virtualmente. Os computadores aproximaram os povos, a televisão ajuda a glamourizar a vida nos chamados países de primeiro mundo.
Os migrantes são peças destas engrenagens, buscam sobreviver nas frestas desta nova ordem mundial. Tendem a ir para os centros que os acolhem, interessados no que ganharão com isto. Vão porque ainda faltam empregos, salários dignos ou não se está de acordo com a ordem interna de seus países de origem. Existe gente que migra porque não possui meios de se profissionalizar e conseguir um emprego melhor. Normalmente, vão para o emprego precário no exterior, entretanto, ganhando bem mais que o mesmo tipo de emprego daria no seu país de origem. Mas, repito a pergunta: vale a pena?
Lógico que muita gente conhece um parente ou um amigo que se deu bem trabalhando no exterior, juntando dinheiro, montando seu próprio negócio, mas também conhecemos histórias de gente que sofreu muito lá fora, enfrentaram a discriminação, a guetificação e a saudade de seu país natal.
São anônimos de onde vieram e para onde vão. Acham que vale a pena, porque foram ensinados pela publicidade e pelos modernos valores sociais mundializados de que uma vida boa, só é bem-sucedida, com dinheiro no bolso. É o vil metal que procuram, porque sem ele, de onde vieram e onde estão, nada valem.
Apesar de buscarem o dinheiro, não podem usar os canais pelos quais ele circula. Trafegam como uma mercadoria especial – a carne humana – que, como no passado escravista continua sendo vendida no mercado internacional. A diferença é que não mais se vende – com algumas exceções – as pessoas, mas, sim suas forças de trabalho.
Tudo isto gera um fenômeno sociocultural e político novo, que alguns já denominaram como estado imigrante, composto pelos grupamentos de brasileiros espalhados pela face da Terra. Eles vêm buscando reconhecimento e alguma espécie de ajuda da pátria-mãe. Não devem ser abandonados porque fugiram do seu país. Tiveram razões de sobra para isto. Além do mais, têm o direito de ir e vir pelo mundo afora e de experimentar a vida por toda parte e tirar suas próprias conclusões.
Alguns conseguem ter uma vida boa. Outros são bem-sucedidos financeiramente, mas, paradoxalmente, reclamam que lhes falta algo que não conseguem compreender. Outros, talvez a maioria, no máximo conseguem algum dinheiro à custa de muito esforço e sofrimento. Muitos, nem isso, caindo em estado de desespero. Todos são brasileiros, mesmo que cidadãos do universo globalizado. Precisam superar diferenças, se abraçarem e se organizarem no exílio especial de nossos dias.
  
Publicado inicialmente no Informativo O Farol da Paróquia São José - Rolândia/PR em julho de 2008

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