sexta-feira, 28 de maio de 2010

O operário em construção


...Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
Trecho de “O operário em construção”
Vinícius de Moraes

domingo, 23 de maio de 2010

EDUCAÇÃO, FAMÍLIA E SOCIEDADE

Nossas crianças e adolescentes estão em risco;
é preciso uma ação urgente para mudar esta realidade sombria
De acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação, há 4,1 milhões de estudantes secundários com 18 anos ou mais que isso, por força das reprovações. A contrapartida é que 3,6 milhões de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam cursar o ensino médio, ainda marcam passo no fundamental.

Tem razão o ministro da Educação, Fernando Haddad, ao afirmar que o ensino médio no Brasil vive uma grave crise. Não há outra maneira de descrever o que se passa num setor em que a taxa de reprovação é de 11,5% e a de abandono, de 15,3%.

Mas não é somente o ensino médio que está à beira da falência. A educação como um todo não acompanha o desenvolvimento da sociedade. É isso que deveria preocupar as autoridades e os educadores. Não dá mais para ficar no chamado ensino de giz e quadro negro. Chegou a hora de avançar.

Nos últimos 10 anos, houve evolução em todos os setores, principalmente com relação aos equipamentos eletrônicos. Não existe mais nenhuma criança que vive sem contato pelo menos com um aparelho de televisão. E a grande maioria vai bem além, com computadores, ipods, MP3 e outras parafernálias.

O mundo hoje em dia é totalmente visual. Houve uma época, a dos nossos avós, em que o mundo era totalmente verbal. Onde a linguagem era altamente valorizada e os costumes passavam de pai para filho somente através da tradição oral. A descoberta da escrita e a grande revolução trazida pela imprensa de Gutenberg ajudaram a disseminar as palavras.

Os livros nos faziam – e fazem até hoje, quando temos tempo e disposição para ler – viajar por mundos desconhecidos e aprender coisas diferentes todos os dias. A chegada do rádio e do telefone também foi uma grande inspiração e reforçou ainda mais a questão da oralidade. Era a força da palavra.

Naquela época, não muito distante, a professora em frente de um quadro negro e com o giz na mão era chamada de “Mestra” e tinha poder absoluto sobre os alunos. Ninguém ousava discordar daquilo que era transmitido, sempre através da palavra. Era assim em casa, onde nossos pais e avós não tinham diálogo e usavam a força para lidar com os filhos e netos. Era ruim? Era bom? Não sei dizer. Só sei que era “diferente”.

Mas hoje em dia vivemos outra realidade. É ruim? É bom? Não! É somente “diferente”. Menos as escolas, o giz e o quadro negro (com algumas variações de cores, verde, amarelo, vermelho) que continuam do mesmo jeito. E o pior: a maioria dos professores é infinitamente menos qualificada que antigamente. Não há nem comparação, porque são mal pagos, têm uma carga horária desgastante, não conseguem tempo, nem dinheiro, para se qualificar, se reciclar. Dão aulas de manhã, tarde e noite para conseguir sobreviver.

No mundo da imagem, não dá mais para a escola ficar parada. E não adianta somente equipar as salas com televisores, dvds de última geração, computadores. É preciso modificar toda a estrutura educacional. Com professores mais qualificados, com tempo e energia para enfrentar as crianças e adolescentes de hoje em dia, que já nascem ligados em 220 v.

Será que os números apresentados acima, sobre as altas taxas de reprovações e, mais ainda, de abandonos, não têm relação com a maneira como a educação está sendo levada até os nossos estudantes? É preciso ouvir estas crianças e jovens para que possamos saber, com certeza, o que eles pensam disso tudo e como gostariam que as aulas fossem ministradas.

Não existem mais crianças e adolescentes ingênuos. O mundo de hoje não deixa. As informações estão em todos os lugares. O computador é culpado? Os pais têm culpa por querer uma educação mais livre, onde impera o diálogo ao invés da vara de marmelo? O Estatuto da Criança e do Adolescente é o grande vilão, porque não deixa que os professores gritem e espanquem alunos como acontecia antigamente? O ensino e a família, no tempo dos avós ou dos pais, eram bem melhores porque mais duros?

Ora, é muito fácil colocar a culpa em todos esses fatores e ficarmos esperando que algum “iluminado” encontre a solução. Mas não é assim que o mundo funciona. É preciso envolvimento de todos, políticos, professores, pais, alunos, sociedade em geral. Só através de ampla discussão poderemos encontrar uma maneira de mudar este quadro caótico que cada vez mais caminha para um abismo sem fundo.

A violência escolar, as reprovações e os abandonos são reflexos disto tudo:

1) De uma sociedade doente e consumista onde o que vale é o dinheiro, a casa bonita, o carrão na garagem.

2) De uma política corrupta que nunca é punida nos tribunais.

3) De uma Justiça lenta e completamente desconectada da realidade.

4) De escolas que se parecem mais com presídios do que locais onde se deveria realizar a educação.

5) De famílias esfaceladas e despreparadas para lidar com crianças e adolescentes cada vez mais inconformados pela falta de oportunidade e pela desigualdade social.

Ou nós mudamos o rumo dessa situação ou o nosso futuro não será nada brilhante. A educação começa na família, passa pela escola e se completa na vida em sociedade. Não podemos dissociar uma coisa da outra. É preciso agir em conjunto, e quanto mais rápido, melhor.

“Eu não agüento mais o meu filho”

Quantas vezes já falamos ou ouvimos a frase acima? Algo que nunca deveria ser dito está se transformando em uma situação corriqueira. Para um pai ou mãe chegar a este ponto – “não agüento mais meu filho ou filha” – é porque alguma coisa deu ou está dando errada. E não adianta procurar culpados, porque estes somos todos nós: família, governantes, educadores, sociedade, etc.

Mas existe uma maneira de modificar esta situação? Algumas iniciativas, principalmente de escolas, mostram que sim. As pessoas mais preocupadas com o problema estão percebendo que transformar a escola em um ambiente de saudável convivência, onde se aprende mais do que o previsto no currículo básico, e para onde se pode trazer a família nos finais de semana, é uma boa receita para diminuir os índices de violência e vandalismo entre crianças e jovens.

Não me arvoro um especialista neste assunto, mas pretendo abrir novos caminhos para que possamos entender um pouco melhor como se pode combater a violência através de ações de paz.

Abrir as escolas nos finais de semana para a realização de oficinas de qualificação profissional, lazer, cultura, artes, esportes e saúde pode ser o caminho mais fácil e barato para diminuir a violência nas cidades. Onde o projeto foi implantado houve diminuição de 35% nos número de homicídios nas áreas próximas dos colégios.

A idéia é que profissionais da área da educação organizem atividades sócio-culturais, esportivas, de qualificação para o trabalho e desenvolvam ações preventivas na área da saúde, aproximando comunidade, escola, pais, filhos, alunos e professores.

Algumas das atividades que podem ser realizadas nas escolas nos fins de semana são: dança de salão, oficinas de artesanato, jogos esportivos e cursos rápidos de informática, panificação, entre outros.

Aí vem a pergunta: quem vai dar esses cursos? Em São Paulo, existe o projeto Bolsa-Universidade. De um lado, o aluno sem recursos, oriundo da escola pública, consegue fazer uma faculdade. Do outro, o Programa Escola da Família, passa a contar com educadores qualificados nas atividades desenvolvidas nas escolas nos finais de semana. Uma idéia simples, mas muito eficaz.

Graças ao projeto Bolsa-Universidade, iniciado em 2003, 28 mil ex-alunos da rede pública de São Paulo têm a possibilidade de prosseguir seus estudos no Ensino Superior. É muita gente: as três universidades estaduais paulistas oferecem, juntas, pouco mais de 18.000 vagas por ano em seus vestibulares.

Além da possibilidade de poder cursar uma faculdade, o bolsista tem outros benefícios no programa: trabalhando com os alunos, ele consegue uma formação extra e isso vai ajudar na vida profissional. Para a escola também é bom, porque as atividades do Escola da Família ocupam o tempo ocioso dos alunos com coisas positivas. Muitos bolsistas, depois de formados, continuam atuando como voluntários.

Um diferencial importante do programa é o fato de o aluno não receber a bolsa como um favor do Estado, mas sim como contrapartida de seu trabalho no Escola da Família, um programa que abre as escolas à comunidade nos finais de semana promovendo atividades culturais, esportivas, de lazer e para a geração de renda. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo paga 50% da mensalidade do curso superior, até o limite de R$ 267, e a universidade ou faculdade parceira cobre o restante.

A contrapartida é que o bolsista desenvolva atividades de recreação, reforço escolar, esportes e qualificação profissional nas escolas estaduais nos finais de semana. Além de oferecer um espaço de convivência e lazer para a comunidade do entorno escolar, integrando pais, filhos e educadores, o projeto cria oportunidade para milhares de jovens continuarem seus estudos dentro da política pública de inclusão social. Para a maioria dos bolsistas, o programa representa a única oportunidade de acesso ao curso superior.

Soluções deste tipo podem ser colocadas em prática em todo o País. Basta boa vontade, não somente dos governantes, mas principalmente da disposição de educadores e comunidade. As empresas podem participar, as entidades organizadas também. Vamos mobilizar um grande mutirão para que possamos dar mais oportunidades a todas as crianças e todos os jovens. Só assim vamos livrá-los das garras dos traficantes e do degradante mundo da violência. Afinal, manter as escolas abertas nos finais de semana não custa tanto assim. E o benefício é imensurável.

Os jovens, a violência e as drogas

Está cada vez mais difícil combater as drogas, principalmente entre os jovens. Muitas pessoas falam, falam, falam... mas nada de concreto é realizado. É preciso sair dos discursos e dos projetos e partir para a ação. Afinal, como nos lembra o Novo Testamento, Jesus não ficou somente na pregação, mas mostrou através de gestos e atos que é possível modificar o mundo, basta arregaçar as mangas e partir para a concretização daquilo que pensamos.

Muito gente vai dizer que é preciso mais ação da polícia. Logicamente, os policiais são necessários para combater o narcotraficante. Mas a ação policial somente não vai resolver o problema dos nossos filhos, expostos aos mais diversos apelos da idade, da publicidade e do próprio grupo (ou tribo) em que vivem. Quando os policiais chegam, eles encontram outro local para se reunir.

Outras pessoas dirão que sem dinheiro não dá para fazer nada. Outro engano. Erradicar a violência das escolas, por exemplo, custa, por mês, o equivalente a uma caixa de lápis de cor. Com investimentos de R$ 4 a R$ 6, por aluno, e muita disposição de pais e professores, é possível afastar a insegurança, acabar com as depredações e ainda reduzir os índices de homicídios entre jovens que moram perto das instituições. É o que garante a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) que apóia um programa que mantém as escolas abertas durante os fins de semana, com atividades de lazer e recreação.

Aqui em Rolândia, há muito lugares que estão se transformando em pontos de venda e consumo de drogas. A praça da Igreja Matriz é um desses locais. Todas as noites, principalmente nos finais de semana, é possível ver jovens fazendo uso dos mais diversos entorpecentes. A praça está suja e tomada por gangues. Alguns pais e mães têm medo de passar por ali sozinhos e mais ainda quando estão com os filhos menores.

O medo não pode tomar conta da nossa sociedade. É preciso uma ação imediata que envolva vários setores: família, prefeitura, entidades de classe, escolas, educadores, empresas. A guerra contra a drogas é de todos e deve envolver a todos. Não adianta ficar falando, colocando culpa neste ou naquele. Ainda há tempo de salvar nossos jovens.

A situação do jovem no Brasil é grave. As principais causas de morte (70%) são devidas a fatores externos (homicídios, acidentes de trânsito e suicídios). Entre 1991 e 2000, a taxa de homicídio entre a população juvenil saltou de 66,5% para 98,8% por 100 mil mortos - índices bastante superiores aos de países em estado de guerra declarada.

É o mesmo que acontece nas cidades do Paraná, onde a maioria das vítimas de homicídio é jovem entre 16 e 24 anos de idade. E não adianta aumentar o número de policiais nas ruas. A presença deles é importante para dar segurança, mas não evita os assassinatos ligados principalmente ao tráfico de drogas. É preciso um envolvimento maior da sociedade, é necessário mais empregos e tudo aquilo que estamos cansados de saber.

Por que então não começamos com a abertura das nossas escolas (estaduais e municipais) que estão mais próximas dos bairros que têm pouca ou nenhuma área de lazer nos finais de semana? É um projeto que custa pouco e tem um retorno muito grande. Os números mostram que as escolas de Pernambuco, por exemplo, conseguiram melhorias de 83% nos casos de indisciplina, furtos e brigas entre os alunos, 66,7% nas ocorrências de uso de drogas e quase 100% nos episódios de vandalismo e depredação da escola. Isso reflete na sociedade como um todo, diminuindo o número de furtos, roubos e homicídios na região e, consequentemente, afastando o tráfico.

Em São Paulo, outros números importantes: diminuição dos índices de violência em 35% nas escolas estaduais de agosto de 2003 a agosto de 2004; apropriação, recuperação e manutenção do espaço físico escolar pela comunidade; resgate da convivência familiar na escola e ampliação dos horizontes culturais dos participantes; maior envolvimento dos educadores com os alunos e as questões escolares.

Se nestas grandes regiões metropolitanas, como Recife e São Paulo, foi possível diminuir o problema, por que em Rolândia não conseguiríamos?

Mas só a ação das escolas não basta. Além do envolvimento da prefeitura e do Estado, outros atores são importantes nessa empreitada contra o crime e as drogas. A família é fundamental. De que adianta dizer para o filho não fumar maconha, não cheirar cocaína, se o pai ou a mãe fumam o dia inteiro, um cigarro atrás do outro, e bebem até ficar bêbados? O cigarro e o álcool também são drogas, viciam, estragam as relações familiares e matam. E não adianta dizer que bebe e fuma “socialmente”. As crianças e os jovens não entendem assim.

Nossos jovens e nossas pastorais, que fazem reuniões em salas aconchegantes dos centros de pastorais, deveriam sair às ruas. Por que não fazer as reuniões de final de semana na praça da Igreja Matriz, na Vila Operária, na Vila Oliveira, no São Fernando e em outros locais onde há grande número de pessoas nas ruas nos finais de semana? Afinal, nosso objetivo maior não é evangelizar, levar a palavra de Jesus àqueles que mais necessitam? E onde estão estes necessitados? Estão nas ruas, precisando de uma mão amiga, de carinho, compaixão e, acima de tudo, de serem ouvidos. A oração é muito importante, mas sem a ação não serve de nada.

sábado, 15 de maio de 2010

A mãe, o filho e a corrente

Reportagens publicadas pela FOLHA no final de dezembro e no início de janeiro retrataram o drama de uma mãe, moradora de Rolândia, que decidiu - como último recurso - acorrentar o filho, um jovem de 19 anos viciado em drogas. Ela disse que amava muito o filho e não queria vê-lo morto, assassinado ou por overdose.

As reportagens - como tudo que é publicado na FOLHA - repercutiram por todo o País e até pelo mundo afora, através de agências internacionais de notícias, internet, etc. Todos os meios de comunicação também relataram o caso, espalhando a notícia: ‘‘Mãe acorrenta o filho para salvá-lo das drogas’’.

Muito se falou que a mãe chegou a este extremo porque não conseguia uma instituição para tratamento do filho. Mas na verdade, em Rolândia mesmo, foram oferecidas várias alternativas para a família, mas o jovem sempre se negava a ir para o internamento. Foi o que disse o monsenhor José Agius, pároco de Rolândia, no Informe FOLHA (pág. 3, 20/12/07), logo depois da notícia de que o jovem estava acorrentado. É lógico que, tomado pela droga, ele não queria saber de mais nada. Não tinha perspectiva de vida e só via uma saída: consumir mais e mais drogas.

Diante da ação inesperada da mãe, que decidiu acorrentá-lo, o jovem aceitou ser internado em uma chácara que pertence a uma entidade que cuida de dependentes químicos. Mas não ficou muito tempo e acabou deixando o tratamento e voltando para as drogas e para o crime, conforme revelou a FOLHA na edição do dia 29/12 (Folha Cidades).

O importante nesta história toda é a lição de que não adianta deixar as ações para a última hora. Depois que a casa foi arrombada, não resolve nada comprar uma tranca. É preciso estar sempre vigilante. O que vale na educação dos filhos não são somente as palavras, os sermões, as broncas, as cobranças, mas as ações, o amor. É preciso ensinar nossas crianças e jovens a amar a vida, conforme demonstrou a FOLHA na reportagem ‘‘O Milagre da Vida’’, do repórter Wilham Santin (dia 23/12, caderno Especial) e no artigo do diretor de Redação Oswaldo Petrin (dia 26/12, neste mesmo espaço).

Somente com o trabalho sério de ONGs, igrejas, imprensa, família e escola que nós vamos mudar este País, que nós vamos salvar nossas crianças e adolescentes do caminho das drogas e da criminalidade. Para finalizar, como pai, faço um apelo: pais, atuem com mais energia, mais autoridade e disciplina, amem seus filhos, demonstrem este amor com palavras e gestos, dêem bons exemplos e, principalmente, fiquem vigilantes, saibam o que eles estão fazendo, aonde vão e com quem vão, para que mais tarde não precisem usar a corrente.

(texto publicado na Folha de Londrina em 02/2008)

sábado, 1 de maio de 2010

Os jovens, a violência e as drogas

Está cada vez mais difícil combater as drogas, principalmente entre os jovens. Muitas pessoas falam, falam, falam... mas nada de concreto é realizado. É preciso sair dos discursos e dos projetos e partir para a ação. Afinal, como nos lembra o Novo Testamento, Jesus não ficou somente na pregação, mas mostrou através de gestos e atos que é possível modificar o mundo, basta arregaçar as mangas e partir para a concretização daquilo que pensamos.

Muito gente vai dizer que é preciso mais ação da polícia. Logicamente, os policiais são necessários para combater o narcotraficante. Mas a ação policial somente não vai resolver o problema dos nossos filhos, expostos aos mais diversos apelos da idade, da publicidade e do próprio grupo (ou tribo) em que vivem. Quando os policiais chegam, eles encontram outro local para se reunir.

Outras pessoas dirão que sem dinheiro não dá para fazer nada. Outro engano. Erradicar a violência das escolas, por exemplo, custa, por mês, o equivalente a uma caixa de lápis de cor. Com investimentos de R$ 4 a R$ 6, por aluno, e muita disposição de pais e professores, é possível afastar a insegurança, acabar com as depredações e ainda reduzir os índices de homicídios entre jovens que moram perto das instituições. É o que garante a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) que apóia um programa que mantém as escolas abertas durante os fins de semana, com atividades de lazer e recreação.

Aqui em Rolândia, há muito lugares que estão se transformando em pontos de venda e consumo de drogas. A praça da Igreja Matriz é um desses locais. Todas as noites, principalmente nos finais de semana, é possível ver jovens fazendo uso dos mais diversos entorpecentes. A praça está suja e tomada por gangues. Alguns pais e mães têm medo de passar por ali sozinhos e mais ainda quando estão com os filhos menores.

O medo não pode tomar conta da nossa sociedade. É preciso uma ação imediata que envolva vários setores: família, prefeitura, entidades de classe, escolas, educadores, empresas. A guerra contra a drogas é de todos e deve envolver a todos. Não adianta ficar falando, colocando culpa neste ou naquele. Ainda há tempo de salvar nossos jovens.

A situação do jovem no Brasil é grave. As principais causas de morte (70%) são devidas a fatores externos (homicídios, acidentes de trânsito e suicídios). Entre 1991 e 2000, a taxa de homicídio entre a população juvenil saltou de 66,5% para 98,8% por 100 mil mortos - índices bastante superiores aos de países em estado de guerra declarada.

É o mesmo que acontece nas cidades do Paraná, onde a maioria das vítimas de homicídio é jovem entre 16 e 24 anos de idade. E não adianta aumentar o número de policiais nas ruas. A presença deles é importante para dar segurança, mas não evita os assassinatos ligados principalmente ao tráfico de drogas. É preciso um envolvimento maior da sociedade, é necessário mais empregos e tudo aquilo que estamos cansados de saber.

Por que então não começamos com a abertura das nossas escolas (estaduais e municipais) que estão mais próximas dos bairros que têm pouca ou nenhuma área de lazer nos finais de semana? É um projeto que custa pouco e tem um retorno muito grande. Os números mostram que as escolas de Pernambuco, por exemplo, conseguiram melhorias de 83% nos casos de indisciplina, furtos e brigas entre os alunos, 66,7% nas ocorrências de uso de drogas e quase 100% nos episódios de vandalismo e depredação da escola. Isso reflete na sociedade como um todo, diminuindo o número de furtos, roubos e homicídios na região e, consequentemente, afastando o tráfico.

Em São Paulo, outros números importantes: diminuição dos índices de violência em 35% nas escolas estaduais de agosto de 2003 a agosto de 2004; apropriação, recuperação e manutenção do espaço físico escolar pela comunidade; resgate da convivência familiar na escola e ampliação dos horizontes culturais dos participantes; maior envolvimento dos educadores com os alunos e as questões escolares.

Se nestas grandes regiões metropolitanas, como Recife e São Paulo, foi possível diminuir o problema, por que em Rolândia não conseguiríamos?

Mas só a ação das escolas não basta. Além do envolvimento da prefeitura e do Estado, outros atores são importantes nessa empreitada contra o crime e as drogas. A família é fundamental. De que adianta dizer para o filho não fumar maconha, não cheirar cocaína, se o pai ou a mãe fumam o dia inteiro, um cigarro atrás do outro, e bebem até ficar bêbados? O cigarro e o álcool também são drogas, viciam, estragam as relações familiares e matam. E não adianta dizer que bebe e fuma “socialmente”. As crianças e os jovens não entendem assim.

Nossos jovens e nossas pastorais, que fazem reuniões em salas aconchegantes dos centros de pastorais, deveriam sair às ruas. Por que não fazer as reuniões de final de semana na praça da Igreja Matriz, na Vila Operária, na Vila Oliveira, no São Fernando e em outros locais onde há grande número de pessoas nas ruas nos finais de semana? Afinal, nosso objetivo maior não é evangelizar, levar a palavra de Jesus àqueles que mais necessitam? E onde estão estes necessitados? Estão nas ruas, precisando de uma mão amiga, de carinho, compaixão e, acima de tudo, de serem ouvidos. A oração é muito importante, mas sem a ação não serve de nada.