domingo, 23 de maio de 2010

EDUCAÇÃO, FAMÍLIA E SOCIEDADE

Nossas crianças e adolescentes estão em risco;
é preciso uma ação urgente para mudar esta realidade sombria
De acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação, há 4,1 milhões de estudantes secundários com 18 anos ou mais que isso, por força das reprovações. A contrapartida é que 3,6 milhões de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam cursar o ensino médio, ainda marcam passo no fundamental.

Tem razão o ministro da Educação, Fernando Haddad, ao afirmar que o ensino médio no Brasil vive uma grave crise. Não há outra maneira de descrever o que se passa num setor em que a taxa de reprovação é de 11,5% e a de abandono, de 15,3%.

Mas não é somente o ensino médio que está à beira da falência. A educação como um todo não acompanha o desenvolvimento da sociedade. É isso que deveria preocupar as autoridades e os educadores. Não dá mais para ficar no chamado ensino de giz e quadro negro. Chegou a hora de avançar.

Nos últimos 10 anos, houve evolução em todos os setores, principalmente com relação aos equipamentos eletrônicos. Não existe mais nenhuma criança que vive sem contato pelo menos com um aparelho de televisão. E a grande maioria vai bem além, com computadores, ipods, MP3 e outras parafernálias.

O mundo hoje em dia é totalmente visual. Houve uma época, a dos nossos avós, em que o mundo era totalmente verbal. Onde a linguagem era altamente valorizada e os costumes passavam de pai para filho somente através da tradição oral. A descoberta da escrita e a grande revolução trazida pela imprensa de Gutenberg ajudaram a disseminar as palavras.

Os livros nos faziam – e fazem até hoje, quando temos tempo e disposição para ler – viajar por mundos desconhecidos e aprender coisas diferentes todos os dias. A chegada do rádio e do telefone também foi uma grande inspiração e reforçou ainda mais a questão da oralidade. Era a força da palavra.

Naquela época, não muito distante, a professora em frente de um quadro negro e com o giz na mão era chamada de “Mestra” e tinha poder absoluto sobre os alunos. Ninguém ousava discordar daquilo que era transmitido, sempre através da palavra. Era assim em casa, onde nossos pais e avós não tinham diálogo e usavam a força para lidar com os filhos e netos. Era ruim? Era bom? Não sei dizer. Só sei que era “diferente”.

Mas hoje em dia vivemos outra realidade. É ruim? É bom? Não! É somente “diferente”. Menos as escolas, o giz e o quadro negro (com algumas variações de cores, verde, amarelo, vermelho) que continuam do mesmo jeito. E o pior: a maioria dos professores é infinitamente menos qualificada que antigamente. Não há nem comparação, porque são mal pagos, têm uma carga horária desgastante, não conseguem tempo, nem dinheiro, para se qualificar, se reciclar. Dão aulas de manhã, tarde e noite para conseguir sobreviver.

No mundo da imagem, não dá mais para a escola ficar parada. E não adianta somente equipar as salas com televisores, dvds de última geração, computadores. É preciso modificar toda a estrutura educacional. Com professores mais qualificados, com tempo e energia para enfrentar as crianças e adolescentes de hoje em dia, que já nascem ligados em 220 v.

Será que os números apresentados acima, sobre as altas taxas de reprovações e, mais ainda, de abandonos, não têm relação com a maneira como a educação está sendo levada até os nossos estudantes? É preciso ouvir estas crianças e jovens para que possamos saber, com certeza, o que eles pensam disso tudo e como gostariam que as aulas fossem ministradas.

Não existem mais crianças e adolescentes ingênuos. O mundo de hoje não deixa. As informações estão em todos os lugares. O computador é culpado? Os pais têm culpa por querer uma educação mais livre, onde impera o diálogo ao invés da vara de marmelo? O Estatuto da Criança e do Adolescente é o grande vilão, porque não deixa que os professores gritem e espanquem alunos como acontecia antigamente? O ensino e a família, no tempo dos avós ou dos pais, eram bem melhores porque mais duros?

Ora, é muito fácil colocar a culpa em todos esses fatores e ficarmos esperando que algum “iluminado” encontre a solução. Mas não é assim que o mundo funciona. É preciso envolvimento de todos, políticos, professores, pais, alunos, sociedade em geral. Só através de ampla discussão poderemos encontrar uma maneira de mudar este quadro caótico que cada vez mais caminha para um abismo sem fundo.

A violência escolar, as reprovações e os abandonos são reflexos disto tudo:

1) De uma sociedade doente e consumista onde o que vale é o dinheiro, a casa bonita, o carrão na garagem.

2) De uma política corrupta que nunca é punida nos tribunais.

3) De uma Justiça lenta e completamente desconectada da realidade.

4) De escolas que se parecem mais com presídios do que locais onde se deveria realizar a educação.

5) De famílias esfaceladas e despreparadas para lidar com crianças e adolescentes cada vez mais inconformados pela falta de oportunidade e pela desigualdade social.

Ou nós mudamos o rumo dessa situação ou o nosso futuro não será nada brilhante. A educação começa na família, passa pela escola e se completa na vida em sociedade. Não podemos dissociar uma coisa da outra. É preciso agir em conjunto, e quanto mais rápido, melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário